O som já havia chegado no cinema em 1929, mas Garbo continuava silenciosa. Assim permaneceu quando o drama de John S. Robertson THE SINGLE STANDARD, no Brasil intitulado A MULHER SINGULAR, chegou às telas, em julho. O filme começou a ser produzido no início de abril e desta vez Garbo não pôde contar com a ajuda de um de seus melhores amigos na época, William Daniels, que estava trabalhando na fase sonora de Norma Shearer. Então a fotografia ficou a cargo de Oliver Marsh. O mestre de cenários da MGM de então era Cedric Gibbons, o criador da mansão super moderna onde tem início THE SINGLE STANDARD. Desta vez Garbo era Arden Stuart, a mulher que leva seu choffer para dar um passeio de carro à noite. Ela foge da festa chatíssima que acontece naquela casa e de repente o espectador se encontra diante de uma Garbo apaixonada por seu motorista. Os dois estão em um lugar deserto, deitados, e se beijam. Fico imaginando como as pessoas se comportaram em 1929 quando viram a ousadia: uma jovem mulher cujo lema era “viver como os homens vivem. Com mais liberdade”. Como os filmes de Greta eram marcados pelo forte drama, nunca era dado a ela a oportunidade de ter um amor saudável, então o choffer literalmente morre de amor por ela ao se jogar com o carro na água. Mas esta história me deu um certo alívio. Confesso que fiquei muito feliz quando, depois de tentar o amor de um pintor aventureiro, Arden consegue se casar e então forma uma família. Quando o pintor volta de sua viagem de barco ela teme não resistir aos seus encantos, porém o amor pelo filhinho pequeno fala mais alto e ela o dispensa. Típico final feliz de sociedade hipócrita: a mulher com sua família e nada mais. Embora eu não seja moralista ao extremo, adorei a nossa heroína dos anos 20 abraçada com seu filhinho bonitinho, saudável e junto do marido. Enfim, Garbo conseguia fechar a década com uma verdadeira mulher singular: sem tanto drama, sem mortes no final e nem sacrifícios desnecessários. Um final simples. That’s all!
Fonte: VIEIRA, Mark A. Greta Garbo - A Cinematic Legacy, Harry N. Abrams, incorporated, New York, 2005.